Plástico é o maior desafio ambiental do século XXI, segundo ONU Meio Ambiente

Fonte: Estadão

Um material que foi criado para salvar vidas animais, hoje, é o responsável pela morte de 100 mil animais marinhos a cada ano: o plástico. Segundo a reportagem especial da National Geographic deste mês, o material foi desenvolvido no fim do século XIX para substituir produtos feitos a partir do marfim dos elefantes. Naquela época, o substituto foi um plástico feito com celulose. No entanto, esse material foi posteriormente desenvolvido a partir do petróleo, para barateá-lo e garantir mais qualidade e durabilidade.

Desde então, impulsionado pela indústria de embalagens, o uso do plástico cresceu de forma exponencial. Estima-se que a produção em 2050 chegue a 33 bilhões de toneladas. Neste mesmo ano, cientistas calculam que haverá mais plástico do que peixes nos oceanos. Para Fernanda Dalto, Gerente de Campanhas da ONU Meio Ambiente, o problema não é o plástico, mas sim como usamos. A especialista participou de um encontro em São Paulo no dia Mundial do Meio Ambiente, 05 de junho, justamente para discutir a questão – considerada pela ONU como o maior desafio ambiental do século XXI. Durante o evento, ela apresentou alguns dados que estão alarmando a organização:

O perigo microscópico
Uma das maiores preocupações de especialistas que estudam o material são os microplásticos. O termo foi criado pelo cientista Richard Thompson e é usado para definir pedaços do material que são muito pequenos – de até cinco milímetros de diâmetro. Com a ação do sol, movimentos das ondas do mar e também a ação de microrganismos, a fragmentação do plástico dificulta a recolhida do material do meio ambiente.
Além disso, essas partículas já estão entrando nas cadeias alimentares marinhas. O mesmo cientista achou microplásticos em um terço de 500 peixes diferentes no Canal da Mancha, na Inglaterra. Cientistas já encontraram contaminação plástica no sal marinhonos Estados Unidos, Europa e China.  O mesmo está acontecendo com fibras sintéticas de roupas, de acordo com Dalto. A cada lavagem de roupas com esses materiais, milhares de partículas de plástico são liberadas e vão parar nos ralos, seguindo para córregos, rios e desaguando oceanos. A preocupação é que haja um “sufocamento” dos mares e de seus organismos responsáveis pela fotossíntese. Calcula-se que cerca de 60% do oxigênio que respiramos vem dessas águas.
 
Fontes do problema
Para Dalto, diversos fatores contribuem para a situação de hoje. As principais fontes do problema são: o consumidor, que consome embalagens e itens de plástico de maneira indiscriminada e irresponsável; o setor pesqueiro, que abandona redes e materiais de pesca nos mares; a fragilidade da legislação e regulamentações; a gestão inadequada de resíduos sólidos e as empresas.
Dalto considera que, além de um grande desafio para o mercado, a questão do plástico é oportunidade também. Isso envolve repensar o desenho, design, produção e tipo de material. A tendência é que organizações desenvolvam novos materiais e serviços, pensando em um modelo de economia mais circular. “Empresas têm um papel fundamental. Elas têm uma grande oportunidade de rever seus produtos. Por que não rever e desenhar, ou abrir mão de alguns processos e passar a produzir algo menos danoso?”, questiona.
 
Design e materiais novos
Um exemplo de empresa que surge com esse propósito é a Oka Bioembalagens. empresa brasileira de biotecnologia de Pesquisa e Desenvolvimento de embalagens que não poluem o meio ambiente. Usando fibras de matérias-primas naturais, como a mandioca, cana-de-açúcar ou coco, a organização cria potes, talheres descartáveis, estojos e berços técnicos e produtos personalizados. Todos esses materiais são 100% biodegradáveis sem prejudicar a natureza, podendo ser compostados, ingeridos e usados em ração animal. “No processo industrial de nossos produtos, o único resíduo é o vapor de água, que coletamos para reaproveitar”, relata Felipe Rocha, consultor da startup.
 
Reduzir o uso
O Grupo Pão de Açúcar atua para tentar reduzir o uso de plástico em suas embalagens. No caso das sacolinhas plásticas, Paulo Pompilio, Diretor de Relações Corporativas do grupo, conta que o uso caiu 70% nas lojas após a cobrança pelo produto. A média de produtos embaladas antes da cobrança era de 1,5 produto por embalagem; agora, os consumidores buscam colocar quatro ou cinco mercadorias. Ele relata que são usadas 17 bilhões de sacolas usadas por ano apenas no varejo.
Pompilio lembra que, apesar do material ser reciclável, por ter um valor agregado muito baixo no mercado de reciclagem, o processo não fica acessível – como é no caso da lata de alumínio, por exemplo. Os índices de reciclagem de latinhas é superior a 90%: como o valor do material nas cooperativas é alto, há uma grande quantidade de catadores interessados em realizar a coleta.
 
Potencializar a reciclagem
Além do baixo interesse na reciclagem do material, há uma agravante relacionado ao comportamento do consumidor. Segundo pesquisa do IBOPE feita a pedido da Cervejaria Ambev e lançada nessa semana, 66% dos brasileiros sabem pouco ou nada a respeito da coleta seletiva. Apesar de reconhecer a importância para o meio ambiente, a prática da separação de materiais e reciclagem ainda não é uma realidade para o brasileiro: 75% não separam materiais recicláveis dos lixos domésticos, e, destes, 39% não separam o lixo orgânico do inorgânico.
Além da conscientização, uma das formas de aumentar esses índices é usar mais materiais reciclados. Desde 2012, a Ambev reduziu em 1,9 bilhão sua produção de garrafas PET. Isso aconteceu graças ao aumento no uso de material reciclado: atualmente, 56% das garrafas PET de Guaraná Antarctica são 100% feitas a partir de plástico reciclado.  No total da companhia, a garrafa com material reciclado corresponde a 33% de todas as embalagens, segundo a assessoria de imprensa da companhia. Até 2025, a cervejaria se comprometeu a embalar 100% de seus produtos em embalagens retornáveis ou feitas majoritariamente com materiais reciclados.

Site Desenvolvido por: